quinta-feira, maio 21, 2009
O pretexto

- Tem nome de viajante?
- Como?
- Era um tal de espanhol…
- Ah, já estou a compreender. Mas não era espanhol, era genovês, aliás, veneziano…
- A Europa nessa altura era um continente desconhecido.
- Sim, era. Mas ele também esteve na China…
Esta conversa, verídica, ocorreu num aeroporto, no regresso de uma viagem. De repente, o vendedor tentava distrair-me dos gastos last minute, porque quando estamos num duty free parece que nos falta algum objecto fútil, para levar para casa.
Principalmente, aqueles 2 minutos de fala sem assunto, trazem-me a vontade de dissecar um pouco sobre o começo, a identidade. Quantos de nós não fizeram a vulgar pergunta: qual a origem dos meus nomes próprios? Aqueles que desconhecem a resposta, devem colocá-la quando estiverem de volta da saia da mãe, dos braços do pai ou da companhia dos padrinhos. Eles são, para cúmulo dos nossos (dis)sabores, os autores morais dessa quase fatalidade. Encontra-se no BI, ou no passaporte, para incrédulo confirmar.
Pois no meu caso, e mesmo tendo sido confundido com o mais mítico viajante da Idade Média, devo advertir-vos que a proveniência dos meus nomes próprios [e relembro que os de família estão separados em destaque no passaporte] são o resultado de um qualquer cantor de música tipicamente made in Portugal. Que originalidade! Nunca quis mudar-me para Polo, porque teria que explicar, sempre que estivesse prestes a embarcar para a aventura (ou fim dela), que nem sou italiano – e de Itália, falemos tudo menos de nomes -, nem descendente de sangue pintado com côr de mar. É realmente provocador aquilo que prescrevem os manuais do bom senso: dêem um nome errado a uma criança e ela estará marcada para o resto da vida. Para meu consolo, antes nome de cantor popular que nome de cachorro, ou de marca de batata frita...
 
Lavrado por diesnox at quinta-feira, maio 21, 2009 | Permalink |


1 Comments:


At 1:59 da tarde, Anonymous Ice_device

Man!
Pelos vistos o Marco Polo era croata, não italiano. E há inclusivé quem duvide das suas viagens. A História esconde segredos. E muitas vezes é reescrita em função de mitos.