terça-feira, maio 19, 2009
O controlo figurado

No fundo, a questão central é sempre a mesma: se tivéssemos o dobro do tempo que necessitávamos naquele efémero instante – para respondermos às questões de um teste, para aproveitarmos o carinho dos nossos avós, para partilharmos os momentos com os nossos amigos,…- a vida seria diferente. Acontece que as unidades de duração das coisas não são assim tão elásticas. O tempo é, antes de mais, o confronto com a alternatividade: ou optamos por ir ao cinema ou preferimos andar de bicicleta; ou vegetamos no sofá ou vamos estender as pernas à rua; ou respondemos às perguntas mais cotadas e que dominanos ou bloqueamos no teste. Não existem duas escolhas.
Já repararam que há séculos que medimos da vida exactamente da mesma forma? Anos, meses, dias, horas, minutos e, por vezes, segundos. Nem mais! Seria, todavia, infrutífero tentarmos criar outros modelos de contagem das coisas, porque isso não aumentaria o tempo que temos.
A divisão das coisas segundo unidades perceptíveis é tão-só um método para conferir uma aparência de ordem. Porque o tempo é também controlo figurado do caos. O ser humano tem essa necessidade inata de recorrer ao abstracto do que é concreto: a matemática, a lógica, a geometria, a estatística encaixam os factos em gavetas, para que todos possam ver o quão conseguimos arrumá-los. Ora, os números arrumam-se, as vidas no seu todo, demora mais... tempo. Porque isso do tempo, isso é imprevisibilidade.

Pinturas de André Masson : O Sol; A Lua.
 
Lavrado por diesnox at terça-feira, maio 19, 2009 | Permalink |


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