segunda-feira, maio 25, 2009
A natureza do homem
Acredito que Jean-Jacques Rosseau está mais próximo da verdade que Thomas Hobbes. E não é uma questão de estilo, mas de convicção: no fundo, o homem é bom por natureza. Discordo, porém, do pormenor de atribuir à sociedade a responsabilidade pelo seu corrompimento. Se queremos encontrar um culpado pelo desvirtuamento do próprio homem é ao homem que nos devermos dirigir. Não deixa de ser uma contradição, obviamente. Afinal, se o homem é bom por natureza, como se explica que ele seja igualmente o causador desse afastamento?
O que desvia as pessoas da sua alma natural é sempre o excesso: da racionalidade, pela submissão continuada ao raciocínio; da paixão, pela entrega cega à emoção. Mas também é o excesso que faz evoluir as sociedades: a arte é exagero; a ciência é busca de além-limites; a guerra é a conquista do perene.
Por vezes, distorcemos, ora um tanto ora um todo, a realidade. A nossa insegurança, por um lado, o nosso passado, por outro, contaminam a interpretação dos factos. E em resposta aos estímulos do exterior, agimos em sequência mimética, imparável, vertiginosa e escalonada, convertendo-nos em fotografias multiplicadas sem fim, submetidas à mesma luz, matéria e intensidade.
Insisto, por isso, em contrariar a repetição dos comportamentos, o estar na vida com esse “pulsar mecânico” e do “porque tem que ser como sempre foi”.
Se soubermos parar cinco segundos - c - i - n - c- o s - e - g- u - n - d - o -s - e ver a vida a partir de um abrigo mais atento, pousado e confiante, com alguma certeza encontraremos uma análise autêntica do que nos envolve. Não duvidaremos, enfim, da honestidade do indivíduo.
Creio por isso no que há de selvagem e bom no homem. É essa a sua grandeza. E a nossa dádiva deveria perceber que a natureza do homem é mesmo assim.

Pintura: O Nascimento de Vénus de Sandro Botticelli.
 
Lavrado por diesnox at segunda-feira, maio 25, 2009 | Permalink |


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