É sempre triste quando acaba o amor. Fica um vazio sem sentido. Uma descrença. O adeus aos dias de loucura, de extrema felicidade e de agoniante desilusão. O coração a bater mais forte, o suor das mãos que nos diz cá dentro que estamos presos. Presos com correntes de aço que não se vêm, que não se sentem, que nos fazem render sem tentar lutar. O amor é assim até ao dia que não é mais. Até não nos dar vontade de correr, de fechar os olhos e sorrir. Até ao dia em que nem nos lembramos de algo importante que deveria selar, confirmar e perpectuar aquele sentimento desprendido e avassalador. Quando acaba o amor é pior que a desilusão. Na desilusão, só o outro lado não sente. No fim do amor, ficamos todos vazios. E o vazio é insuportavelmente cheio de nada.

Isto para dizer que o meu amor pelo Benfica acabou. Não sei há quanto tempo. Mas dei-me conta ontem pela primeira vez. O clube ainda tinha possibilidades matemáticas de conquistar o título e eu nem me lembrei disso o dia todo. A minha vida tem outros amores mais fortes e mais presentes. À noite, quando o porto ganhou outra vez, nem pestanejei. Ficam as recordações de um amor que me consumiu o espírito e me deu alegrias. Eu chorei quando perdemos a liga dos campeões com o PSV com aquele maldito penalti do Veloso. Chorei tanto... Eu perdi o apetite quando, dois anos mais tarde, em 1990, perdemos com o Milan mais uma final. Ainda hoje não como gelatina.

Saltei de alegria quando fomos a Espanha ao Juventud ganhar um jogo para a liga dos campeões em Basket [Carlos Lisboa...] no inicio dos anos 90. E quem não se lembra dos 6-3 ao Sporting ou nas copiosas derroras de 7-1 com os leões e 7-0 com o Celta? Tudo isso eu vivi com emoção, com os olhos bem abertos.

Ontem apercebi-me que já não amo com o meu Benfica. Pelos resultados essencialmente, mas pela idade e pela falta de paciência. Enfim, o que acaba com qualquer amor.

Adeus paixão de juventude. Incondicional. Ficarás sempre no meu coração SLB.. Trocar-te pelos outros não. Sofrer por ti nunca mais.