terça-feira, outubro 31, 2006
O Sherlock e o Einstein cá do sítio

Artur Varatojo, o nosso Sherlock Holmes, foi Segunda-feira a enterrar. Há uns meses, foi a vez de Eurico da Fonseca. Este par representava o melhor que o país tinha em matéria de combate ao embuste e à busca da verdade.
Dava um particular gozo ouvir as teses de Varatojo que desmontavam ponto a ponto os crimes e as histórias de homicídios e roubos. A crónica semanal de Varatojo era das poucas páginas de interesse da Focus. Eurico da Fonseca fazia o mesmo no domínio da ciência. Tinha uma explicação para tudo o que fosse átomo e razão. Recordo-me das suas explicações sobre a possibilidade de haver vida em Marte e da inevitabilidade de o homem pôr os pés em solo vermelho.

O país perde dois grandes "senadores" do conhecimento. E a maior perda é sabermos que Varatojos e Fonseca dão lugar à Floribella e Morangos. É a vida…
 
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olhando para a rua desde uma janela de tijolo
de quem é esse sorriso que me escuta? de quem são aqueles olhos que me seguem? e aquelas mãos que me agarram, com medo de que fuja? de quem é esse nariz, pelo qual reconheço o cheiro do meu corpo? a quem chamo de noite sem que nunca apareça? e de quem é essa voz que me morde a alma? é tua. não existes...
 
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quinta-feira, outubro 26, 2006
eSCUTeiro mirim

O ministro das Obras Públicas quer convencer-nos que as portagens incluídas nas três Scut (costa da Prata, Grande Porto e Norte Litoral) são um compromisso com o programa do Governo. Mário Lino, além de iberista, é também exímio vendedor de ilusões, na especialidade «purga de memória». O PS prometera não introduzir portagens nas SCUT – um princípio do qual não comungo, pois, salvo raras excepções, deve vigorar em todo o país o sistema do utilizador-pagador – e enquanto Governo, decide aplicar portagens nas regiões que alcançaram «desenvolvimento regional», na expressão do ministro.

A ser verdade, não me resta senão elogiar este Governo. Em dois anos conseguiu fazer da Costa da Prata, Grande Porto e Norte Litoral três «regiões» de um desenvolvimento notável. Estou encantado! O Governo de Sócrates fez melhor que Aznar numa década em Espanha. Pena é que naquelas três regiões, a noção de desenvolvimento não seja sentida no bolsoe no dia-a-dia das pessoas. Brinquem com as pessoas e depois vão ver se elas se esquecem.

Estranho – ou melhor, não - é que a decisão tenha sido tomada numa altura em que o Governo apresenta o Orçamento de Estado para 2007. Não seria mais humano, Lino admitir que errou, e que este volte-face é mais justo para as gerações vindouras? Quer queiramos, quer não, quem vai pagar as SCUT somos nós e os nossos filhos, que terão de assumir os custos da invenção engenhosa de João Cravinho. O mesmo que quer acabar com a corrupção, mas que se esquece que deixar dívidas aos que depois de nós vêm é tão perigosos como viver à custa de luvas e de sasos azuis. O dano ao erário público é igualmente terrível. Palavra de escuteiro.
 
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quarta-feira, outubro 25, 2006
Das pequenas coisas… em Deus

Fiquei a assistir a um debate entre Lula e Alckmin, Terça-feira à noite. O primeiro exibia a mudança social e o combate à pobreza alegadamente imprimido durante o seu mandato presidencial. O candidato do PSDB, por seu turno, em cada resposta, intervenção, réplica e tréplica, tocava nas feridas de corrupção e nos escândalos associados ao governo do PT, como o famoso «mensalão». «Oh Alkmin…», retorquia o herói de todos os torneiros-mecânicos, no início das declarações, num estilo coloquial, e num tom de embaraço áspero.

E, na segunda parte, depois de Alckmin insistir que o Brasil cresce 2 por cento (um terço da Argentina e abaixo da média dos países emergentes, como frisava), Lula foi questionado, inteligentemente, por uma jornalista da Rede Record, sobre qual a maior virtude do seu oponente. «A civilidade», apontou Lula. A resposta é no mínimo decepcionante, ou em democracia os homens da coisa pública não são, aparentemente, cívicos?

Alckmin teve direito também a uma questão-bala. «Qual o seu maior defeito?». Limitou-se a divagar, a discorrer à volta do óbvio, concluindo que, como todos os homens, tem os seus defeitos e as suas virtudes. E voltou à carga, outra vez, com a corrupção, com a falta de ética dos homens próximos de Lula, até citou Santo Agostinho (as críticas o fortalecem e os louvores o corrompem).

Acabei por desligar o televisor, minutos depois. 23H15.

E no Domingo, saberemos que Lula continuará a ocupar o lugar ainda quente no Palácio do Planalto. E o Brasil continuará a ser potencialmente uma potência. Corrupto, também; com mulheres belas, com todas as probabilidades genéticas e culturais; com a Amazónia a desaparecer aos bocados; com caipirinha todo o Santo dia; com samba todo o santo Carnaval; com o Cristo Redentor de pé, no morro do Corcovado; com Pelé, eterno rei do futebol; com as favelas alojadas ao lado de hotéis de 5 estrelas; com os políticos que merece, talvez.

Se Deus fosse brasileiro, duvido que Ele fosse votar no próximo dia 29 de Outubro. Deus preferiria abençoar as pequenas coisas do Brasil. Nele reside a sua essência. Mas água benta, só, não chega para o Brasil crescer e ser respeitado.
 
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sexta-feira, outubro 20, 2006
sem deus... das pequenas coisas

Durante alguns dias tentei convencer um amigo a convidar uma miúda para sair. Ah tal é gira… e foi uma conversa fixe… e que boa que está… e tem… bem não adensemos demasiado o assunto antes que se saiba de quem falo. Refiro-me à miúda, está claro. A ideia era simples, mas diferente. um pequeno-almoço. Qual jantar num restaurante com luzes suaves (para não se ver o nervosismo dele e a espinha na testa dela) música de fundo (Kenny G, todo um clássico nestes temas) e dois tansos a tentar desvendar como raio se come a merda da lagosta. Um pequeno almoço. Quando os dois, ainda meio a dormir, se apresentam com a pior cara do dia, altamente necessitados de cafeína e a insultar o empregado de mesa. Que há melhor que um café com leite, um sumo de laranja natural, um para de torradas quentes e um docinho para terminar. Se és um profissional levas a miúda ao melhor hotel da cidade e aí abusam do melhor banquete matutino num raio de 20 km. Se a coisa fluir bem pode ser que o hotel tenha preços especiais para meia hora.

Como alguns de vocês sabem. Outros não. E outros não querem saber destes pormenores para nada. Voltei a ser estudante. Nas últimas semanas tenho aprendido a animar objectos. Mas poucas coisas me têm animado a mim, para além dos Simpsons 14h-15h diariamente; Friends 15h-16h diariamente e Perfect Strangers 03h diariamente.


Hoje, por fim, houve uma notícia que fez com que o frame de entrada e o frame de saída fossem diferentes. Ou seja fui animado. A Ryanair já voa desde Madrid. Ok para vocês o que é que isso importa… se voa desde Madrid, Bratislava ou Pyong atómico? para mim importa e muito. Fui ver preços e encontrei coisas do género: Oslo ida e volta 48 euros. Porto ida e volta 22 euros… paris, um pouco mais caro, 60 euros… Bruxelas, Dublin, um par de terras com nomes estranhos na Inglaterra, marselle, gottemburgo, quem é que nunca quis ir a gottemburgo? Malmö, também na suécia… uma cidade muito estranha na dinamarca… e se gostam da liga dos campeões e têm algum interesse no futebol holandês avancem até eindhoven. Como podem ver, sofro daquilo a que se chama de síndrome da dispersão anacrónica. fui feliz quando recebi a notícia. Claro isto tudo está muito bem e tal. Mas é que a coisa não ficou por aqui. Este meu amigo, que serve como cobaia para as minhas ideias e falta de talento para as pôr em prática, foi logo confrontado com uma proposta de convite para sair. Queres fazer uma directa comigo em Paris? Parece arrojado. Até mesmo de filme. Já vejo o Don Johnson, no papel de multimilionário californiano (já sei que o homem só tem perfil para ser o Sonny de Miami Vice, mas como tem sempre aquele estilo de chulo…) que conhece uma empregada de mesa (sem dúvida representada por J.LO, bold, cor de ouro, sombra incluída)… um amor, blá blá, blá… claro a meio do romance, ele convida-a para UM PEQUENO ALMOÇO EM PARIS… (ele é multimilionário, meu caro) é meia-noite, ela chama-lhe louco, com olhos de caso-me contigo e saco-te metade do dinheiro no divórcio… e claro, vão no jet privado que ele próprio pilota. Vocês afirmam: este gajo viu demasiados filmes da treta e eu digo: pois vi. Queres fazer uma directa comigo em Paris? Este é o convite que tens de fazer, meu amigo. pode parecer caro e tal, mas hoje em dia somos modernos e cada um paga o seu bilhete de avião (60 €) e depois convidas a mademoiselle para um pequeno almoço. Voilá un croissant pour la dame. Merci. 24h sem dormir em Paris… que rapariga se resistiria a esta aventura pensada com um mês de antecedência? E no final do dia que miúda não cairia aos teus pés? Nem que fosse por cansaço!

 
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Atrevimento de Aznar

Que se passou no subsconsciente de José Maria Aznar, para ousar colocar uma caneta no decote de uma jornalista do seu país? Será que em Portugal, Sócrates faria o mesmo a Fernanda Câncio?

Será que este episódio queimou as esperançosas possibilidades de o antigo chefe do Governo espanhol poder um dia suceder a Barroso na Comissão Europeia?

O acto provocou pelo menos uma reacção: a jornalista Marta Nebot ficou embaraçada - mas não consta que tenha ficado com alguma tatuagem hostil [ainda aguardo pela opinião de ice-device, embora preveja o que ele irá dizer: ela gostou!].

Clique aqui para ver o atrevimento de Aznar. E vejam o ar de gozo do homem…
 
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quinta-feira, outubro 19, 2006
Rivolução ou ocupação neo-hippie?

Não comungo do estilo com que o executivo municipal do Porto adopta na resolução de certos problemas locais. A legitimidade do voto popular não significa discricionariedade de método ou muito menos de decisão. Tratando-se do assunto Cultura, o melindre e a responsabilidade do assunto é agravada.

O erro cometido por Rui Rio em seduzir, via polémica, os holofotes das câmaras de TV, é o mesmo com que um grupo de 30 pessoas comete, ao acampar por uns dias no Teatro Rivoli. O que aconteceu esta noite – com a intervenção da PSP, pondo fim à ocupação hippie-cultural – peca por tardia. Não é admissível que certas pessoas promovam protestos, invocando uma defesa de valores culturais públicos, como se a Cultura fosse propriedade de clãs educados à custa do subsídio do Estado.

É inaceitável que 30 pessoas possam servir-se da Cultura e de um espaço das artes, para fazerem um número mediático ridículo.

A única consequência que no mínimo retiro deste folhetim é que a Cultura em Portugal não pode mais continuar refém de elites, quando em democracia - e no caso, a da cidade do Porto – são os órgãos eleitos quem devem decidir o que querem fazer dos espaços culturais da cidade. Tudo tem um custo - económico e político. E, do ponto de vista político, se a autarquia quer privatizar o Rivoli, o povo fará, no exacto momento, o julgamento dessa opção.
PS: Uma vez mais, os media caíram no engodo. Agarrados à armadilha das audiências, deram voz a cidadãos que invocam direitos, mas que não passam de autênticos vícios.
 
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quarta-feira, outubro 18, 2006
Rica vida

A factura da electricidade vai aumentar. Os clientes domésticos podem começar as fazer as contas. No mínimo, e dependendo da potência do contador, 15,7% é quanto vamos ter de desembolsar a partir do próximo ano. Para o secretário de Estado Adjunto da Indústria e da Inovação, a «culpa» é do consumidor, porque esteve vários anos a pagar menos do que devia. Menos do que devia, senhor doutor Castro Guerra, ora essa?

O Orçamento de Estado - o documento que tira o sono a todos os ministros das Finanças e deixa com insónias milhares de cidadãos - prevê também um aumento nos combustíveis, na ordem dos 2,5 euros. [Esqueçamos por momentos a especulação da OPEP, a cotação do crude nos mercados mundiais, e o cartel nacional do ouro negro – Galp/BP/Repsol].

Por seu turno, os solteiros estão em maus lençóis (quase literalmente). Ou se casam à força, ou já não compensa ser príncipe ou donzela de afectos não-contratualizados. Os contribuintes solteiros são equiparados aos casados, em matéria de dedução em sede de IRS. A dedução passará a ser uniforme, de 55%. Nas entrelinhas do ministro Teixeira dos Santos, quase que ouvi um bom pregador discorrendo sobre a necessidade de proteger a família e os contribuintes casados. Ora, os mesmos que hoje fazem a apologia da família são os mesmos que mais daqui a umas semanas vão fazer campanha pelo aborto. Curioso…

Os deficientes não podiam ficar de fora e também levam uma penalização. Coisa pouca! Não lhes bastam certas agruras da vida e as incapacidades determinadas por doutas juntas médicas que agora perderam certos benefícios fiscais.

Os pensionistas com reformas acima dos 435 euros mensais que se cuidem: a tributação foi-lhes também agravada. Nada de darem muitas prendas aos netos, ou de os deixarem ver muitos episódios do Noddy, horas a fio no canal Panda, que a publicidade pode enlouquecer a cabeça dos miúdos.

Na Saúde, além da taxa de 5 euros por cada dia de internamento (até a um máximo de 10 dias), desce a comparticipação com medicamentos em 5%. As cirurgias – para quem se atrever a aguardar uns meses nas listas de espera – vão ter também um custo de 10 euros.



E podemos ficar por aqui, porque lá para o Natal, quando o bacalhau da Noruega estiver esgotado, saberemos com que linhas nos havemos de coser em 2007.
 
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terça-feira, outubro 17, 2006
Grandes Portugueses
Quem são os grandes portugueses? A rtp lançou uma mega sondagem para saber quem é que os portugueses consideram as maiores figuras dos nossos 850 anos de história. A polémica já está lançada com a inclusão ou não na lista de Salazar. É claro que, como ainda não ultrapassámos o trauma do 25 de Abril, as opiniões se extremam. Aqui no Sun Rays and Saturdays vamos fazer uma sondagem de bolso sobre quem são os grandes portugueses. Proponho uma ligeira modificação das regras: um top 5. Fica o meu.

1- Afonso Henriques- Porque abriu esta barraca. Porque bateu à mãe. Porque parece que tinha tipo 1 metro e 90 e viveu oitenta e muitos anos.

2 - Infante D. Henrique - talvez o maior obreiro da expansão portuguesa por ter fundado a escola náutica em Sagres. Um dos exemplos mais acabados em como a abordagem científica pode levar-nos para a frente.

3 - Marquês de Pombal - O Primeiro Ministro. O homem que fez. O seu lugar na história pode ser um pouco sobrevalorizado mas a verdade é que a sua passagem marcou. Mas cometeu o erro de expulsar os judeus atrasando a educação deste país.

4 - Aristides de Sousa Mendes - Enquanto consul em França, salvou milhares de Judeus de serem levados para campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Desobedeceu às ordens de Salazar e concedeu vistos para que pudessem escapar às garras dos nazis. Morreu na miséria.

5 - Egas Moniz - Médico cientista que estudou os efeitos da lobotomia. Contestado nos dias de hoje por questões de ética, as suas experiencias serviram durante anos os neurologistas e psiquiatras. Veleram-lhe um prémio nobel da medicina em 1949.

Menção Honrosa: D. Teresa mãe do afonsinho que teve a feliz ideia de emprenhar e começar esta confusão toda.
 
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segunda-feira, outubro 16, 2006
Mohamed Yunus

Chamar-lhe «banqueiro dos pobres» é quase um absurdo, tal é o «perigo» da primeira palavra. Irmão dos pobres é talvez o melhor atributo que encontro para o Prémio Nobel da Paz de 2006. Banqueiro é aquele que só empresta dinheiro a troco de uma remuneração compensatória, e Mohamed Yunus nunca quis nada em troca.

Yunus fez mais que a UNICEF, que qualquer ONG, a União Europeia e muitos dos ditos filantropos do planeta. Limitou-se a desmontar a tese de que só se deve emprestar dinheiro a quem aparentemente esteja em condições de o receber e saiba passar, vagamente, os olhos pelas cláusulas contratuais dos empréstimos bancários. Yunus deu uma oportunidade aos pobres, através de uma das maiores invenções da civilização: o crédito.

O fundador do banco Grameen (banco das aldeias) pôs também no mapa um país: o Bangladesh. Onde quer que este país fique, reconfortante é saber que naquele território, além das monções e das cheias constantes, há também quem se lembre dos «esquecidos» e os ajude a encontrar um rumo de vida, ou seja, a pescar. Uma esperança mais poderosa que todas as armas financeiras do mundo.

 
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quinta-feira, outubro 12, 2006
Cozido à portuguesa

O Instituto de Tecnologias de Massachusetts (MIT) e o Governo português firmaram Quarta-feira um acordo que visa a internacionalização do conhecimento português. Católica, Coimbra, Lisboa, Minho, Nova, Porto e Técnica foram as contempladas. Agora, por que razão Aveiro, Beira Interior, Trás-os-Montes e Algarve ficaram de fora? Será que há mesmo universidades de primeira e instituições de segunda?

Houve com toda a certeza lobies a funcionar. Porque, tal como aconteceu com a escolha de Guimarães para candidata a Capital Europeia da Cultura, no acordo com o MIT mandou quem mais facilmente se conseguiu mexer na redoma dos poderes.

Mariano Gago tem uma predilecção especial por certas academias do saber. Gago jurou todavia a pés juntos que «a selecção foi a mais transparente e com base numa avaliação feita pelo MIT». Tretas!

É claro que irá ser dado um rebuçado às preteridas. Mariano Gago anunciou para breve o arranque de programas envolvendo as Universidades de Austin (no Texas) e Carnegie Mellon (na Pensilvânia). Quem se mexer melhor, poderá assim ser contemplado com qualquer coisita...

Em torno deste acordo, a minha maior dúvida consiste em compreender as razões que levam o executivo do meu país a assinar acordos com a «nata do conhecimento americano», quando as nossas próprias universidades não são sequer capazes de se abrirem ao exterior. Levar algumas dezenas de estudantes a frequentar bolsas de especialização, para quê, se o país não terá depois suporte para os acolher?

Na Índia, por exemplo, escolas magníficas formam os seus melhores cérebros, com o dinheiro de Nova Deli, que depois são «contratados» pelo Tio Sam, para irem para os EUA. Em Portugal, o nosso Governo dá uns milhões para as nossas cabeças irem estudar para fora, e depois tudo funcionará de acordo com a lei da oferta. Com o nosso dinheiro formamos cabeças, mas a América é que vai tirar proveito desta magnífica estratégica portuguesa. Mais um passo de gigante do Plano Tecnológico. Em marcha… Até ao abismo.
 
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terça-feira, outubro 10, 2006
Saudades
Dei comigo a pensar que tenho umas saudades imensas da Universidade. De ser estudante e de ser ainda mais irresponsável do que sou hoje. De Braga. Do inverno extremamente chuvoso. Do "laboratório", do senhor Mota que resolvia os problemas de todos. Das escadas cheias de sol onde nos sentávamos à espera uns dos outros para irmos almoçar. Do ginásio onde fiz um bocadinho de karaté. Dos meus amigos a fazer serenatas invulgarmente mal sucedidas. Do GACSUM liderado por um "tirano" com tendências suicidas " não há jornadas! não há jornadas!". Do nosso amigo "what's the point?" a atirar-se para a frente de um autocarro para impressionar uma das passageiras. De ver formula 1 numa casa emprestada pedindo pizzas e torcendo desesperadamente nas voltas rápidas do Hakkinen. Do caqui. Da dona Glória que pensava que eu e a Mata-Hari éramos namorados. Das aulas de semiótica. Da minha casa mais desarrumada que o sistema táctico do Fernando Santos. Dos jantares em casa do What's the Point?. De destruir o quarto do mesmo fulano. Do Bueda Gandi, nosso atleta de eleição que jogava voléi e cuja mão quando nos cumprimentava esmagava ossos. Da amiga que foi modelo por pouco tempo mas que não queria que se soubesse. Dos mails internos. Das arcadas. De visitar a Mata-Hari no hospital durante dias a fio para que ela recuperasse o mais depressa possível. De ser chamado de Sandokan. Das melhorias[tantas]. Dos milhares de míudas giras. Da biblioteca. De dar cambalhotas na relva. Da amiga que praticava viet-vodau e insistia que era muito melhor que Karaté. Da professora de publicidade que pouco percebia daquilo. Da rua dos drogados onde ia a miúde por razões sentimentais. Do Fernando que cuidava do laboratório de comunicação que era um antipático e tinha um fraquinho pela Mata-Hari. Da senhora venezuelana que trabalhava nos serviços académicos e que atendia 3 pessoas ao mesmo tempo com uma simpatia estonteante.
Aos bons amigos feitos.
 
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segunda-feira, outubro 09, 2006
O pingue-pongue de Pyongyang

Como vai reagir a ONU ao «evento histórico», ao «grande salto em frente na construção de uma nação socialista poderosa e próspera», como anunciou a agência oficial norte-coreana KCNA, à mais recente provocação do regime comunista?

Mais que um pequeno abalo sísmico, o ensaio norte-coreano representa um estalo na face do Governo de Pequim, pelo cinismo com que tem lidado com o problema.

A encruzilhada está lançada: num país onde milhões passam fome, o Conselho de Segurança irá aprovar sanções económicas adicionais? O que fazer para evitar a nuclearização da península coreana?
 
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domingo, outubro 08, 2006
Alquilo habitación compartida
Una habitacion pequeña, pero comoda en el centro de Madrid, piso sin reformar, a 5 minutos del metro, lineas 1, 3 y 5, derecho a todo, y no es una broma, para compartir una cama, se busca una chica fumadora que no ronque, y que aguante a un chico joven a su lado, derecho a demandarme por si ..., se devuelve el dinero por si ..., simplemente no me gusta dormir con un tio, llamar ya, disponible ya. La paga es para un mes, no por otra cosa.


bem... em barcelona havia um que alugava casa em troca de sexo. nestas coisas encontra-se sempre cada espécime... humano e escrito.
 
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sexta-feira, outubro 06, 2006
Stôres

A revista Annals of Improbable Research atribuiu os tão aguardados IgNobel. Houvesse prémio para a área da Educação e os professores portugueses seriam certamente laureados com um IgNobel, pelo sucessivo egoísmo com que insistem em pugnar pelos seus direitos, ou corrigirei, antes, privilégios.

Mais de 20 mil docentes desfilaram dia 5 de Outubro, pelas ruas da capital. Os propósitos, os mesmos de sempre, os quais o eterno-sindicalista-da-FENPROF, Paulo Sucena, saberá melhor que ninguém reproduzir: a revisão do estatuto da carreira, e coisa e tal…
Alguém me convence que o que está em causa é acima de tudo dinheiro?

Que me digam que os professores mais jovens têm razões para a luta, concordo. Que saiam também à rua os educadores de infância, por causa de colocação e estabilidade profissional, aceito. Agora, que uma classe reivindique, desde há duas décadas, que está a perder «estatuto» a torto e a direito, isso acho, no mínimo, brincadeira de mau gosto.

Se a altura é de sacrifícios, também os professores – tal como os médicos, polícias, administrativos e todo o sector público – devem ser solidários. Se há classe que goza de privilégios são os professores. Alguém conhece uma outra classe no país que tenha dois meses de férias? Se é hora de congelar escalões e afunilar chorudas reformas, tal constitui uma inevitabilidade de um Estado social em ruptura.

É intolerável que os professores não saibam ser solidários quando o país enfrenta dificuldades. Que façam as greves e as marchas que quiserem, pois isso não me incomoda. De todo.
 
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quinta-feira, outubro 05, 2006
A República

Nos Paços de uma autarquia falida celebra-se o regime. Os protagonistas que por lá se apresentam não captam os tempos que vivemos e os males que fazem à República. É de uma amargura humana sabermos que por ali andam maus actores de uma país-comédia. Um Estado que, ou muito se regenera, ou caminha para um acto de tragédia. Uma Justiça que só serve os ricos, influentes e conhecedores da burocracia; um sistema político com a descrença enraizada nas mentes dos cidadãos-eleitores; uma Administração Pública de excesso de gordura e com centenas de milhares de dramas humanos por solucionar; uma economia onde o privado quer compromissos, mas se esquece das suas obrigações - fiscais e laborais; uma Segurança Social em estado de ruína e com os seus efeitos a repercutir-se daqui a duas décadas. Haverá ainda mais a acrescentar sobre o rectângulo onde vivemos? Nem dá para discorrer mais, porque se fôssemos chamar os nomes verdadeiros ao estado a que isto chegou, parece que estaríamos de volta aos finais do século XIX, quando a monarquia definhava e se aproximava de uma morte iminente. Oxalá o definhamento colectivo que aí vem, se possa evitar. Oxalá...
 
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terça-feira, outubro 03, 2006
untitled II
onde estou? já não me lembro como se procura casa... e é tudo muito caro! vamos ver o que sai disto. amanhã começo as aulas.
 
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Uau. A sério. Uau
Encontrado na net:

" Se pudesse escolher, escolheria morrer calmamente durante o sono como o meu pai. Não com dores e a gritar como os passageiros dele."
 
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segunda-feira, outubro 02, 2006
Chama Vermelha

Quem nunca acendeu um fósforo produzido pela Fosforeira Portuguesa nunca terá queimado os dedos neste mundo. Tal como as fraldas de pano, os fósforos estão em vias de extinção. O mundo mudou e o isqueiro e os acendedores de faísca chamuscaram os paus com ponta colorida.

A empresa espanhola – de portuguesa, resta a localização e a mão-de-obra – morreu Sexta-feira e renasce hoje, baptizada de Chama Vermelha. Uma chama que acabará como todos os fogos.

80 anos volvidos e a unidade de Espinho muito nos vai deixar. Lembrar-nos-emos, certamente, das caixas com aviões de guerra, ou das brincadeiras com fósforos envolvidos em alumínio, ou dos barcos com paus de fósforos colados, um a um. Guardem bem as caixas de fósforos que têm em casa. Daqui a um mês, tudo não passará de design e lume passado.
 
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